MapBiomas - Todos os usos da terra


Folheando minha edição de outubro da National Geographic me deparei com um texto de Matthew Shirts que apresenta uma iniciativa importantíssima para a cartografia e o estudos dos biomas no Brasil, assim como de muitas outras questões que envolvem a análise da ocupação do solo, e que reproduzo abaixo:

Diversos pesquisadores brasileiros se reuniram em rede e conseguiram revolucionar o processo de feitura de mapas, com apoio da Google, do fundo norueguês do clima e florestas, da Nasa, e de diferentes organizações. Baseados em universidades e ONGs de várias cidades brasileiras, estavam unidos por um objetivo: contar, em mapas, a história de cada pedaço de terra no Brasil ao longo dos últimos 33 anos, de 1985 a 2018. Mapearam o que havia em cada quadra de 30 por 30 metros três décadas atrás - pasto, plantação, água, cidade ou floresta. E também o que aconteceu de lá para cá, de ano em ano. São 33 mapas, no total, um para cada ano retratado.

O objetivo desse projeto colaborativo e inovador é melhor calcular a emissão de gases de efeito estufa emitidas no país. Mudanças no uso da terra são uma das principais fontes desses gases no Brasil, diferente do que acontece em economias mais desenvolvidas. Mas o projeto tem inúmeras outras utilidades. Chama-se MapBiomas. Através dele é possível acompanhar a fronteira agrícola, o processo de urbanização, o desmatamento das florestas mais antigas, a recuperação de áreas desmatadas e até surtos de doenças. Está aberto ao público no site MapBiomas.org, com boas explicações em vídeo. Entre lá e veja o que estão fazendo esses pesquisadores. É de tirar o fôlego.

A ideia do projeto partiu de Tasso Azevedo. Ex-diretor do Serviço Florestal Brasileiro e empreendedor social, criador da certificadora Imaflora, Tasso buscava uma maneira de atualizar os dados sobre o uso da terra no Brasil com maior agilidade e menor custo. O processo tradicional de mapeamento levada de cinco a oito anos. Ele localizou uma fonte preciosa, única, nas fotos feitas da Terra pelos satélites da Nasa desde a década de 1970. São sete fotos por dia de lá para cá. Quando perguntou ao especialista Carlos Souza, da ONG Imazon, se daria para identificar a mudança dos usos da terra capturados nessas fotos ao longo dos anos, através de "machine learning", a resposta foi: teoricamente, sim, mas só com muita capacidade de processamento.

Foi preciso ensinar o computador a interpretar os usos da terra, pixel por pixel. E são 9 bilhões de pixels, ao todo, no mapa completo do Brasil. É aqui que entra a Google. A Google Earth Engine, a mesma plataforma que roda softwares populares como Waze e Google Maps, ofereceu uma "janela" de 20 mil a 30 mil servidores para essa imensa tarefa. O fato de ser feita na nuvem, nos milhares de servidores, permite o trabalho descentralizado do grupo de pesquisadores brasileiros. O código é aberto, o que facilita o acesso para finalidades diversas e ainda nem sequer imaginadas.

A conclusão inicial é preocupante: a perda de 71 milhões de hectares de cobertura florestal em três décadas (o dano maior foi no bioma amazônico). Por outro lado, o MapBiomas revela uma capacidade surpreendente de autoconhecimento, de enorme valor ao Brasil no futuro próximo. Como sempre, com um bom mapa, será mais fácil encontrar e seguir um bom caminho.  

Comentários

Leia mais